A VIDA IMITA A ARTE | A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA (1931)



A mente busca asilo nas ideias que a confortam e que lhe são familiares. Os conceitos que conhece, as formas que o mundo assume (sob a sua percepção). Por vezes, vemos esses conceitos desabar e as formas a derreterem. Vemos o Mundo e os conceitos que este abrange com olhos diferentes. É a nossa percepção que muda, não o Mundo. 
O tempo é um dos conceitos que mais nos condiciona e influencia. Por isso, hoje falo-vos um pouco sobre tempo, inspirando-me numa das obras de arte que mais gosto (e que a maior parte das pessoas conhece): "A Persistência da Memória", do pintor Salvador Dalí. Arte apela sempre a uma interpretação, que reflete muito a pessoa que somos, por isso achei interessante começar uma rubrica sobre arte aqui neste meu cantinho.
Pelo que investiguei, esta é uma obra que reúne consensos a nível de interpretação, no entanto, a interpretação é algo pessoal, como referi anteriormente. Não obstante da informação que consegui reunir acerca desta obra, não quero deixar de apontar a minha própria reflexão. 
A figura coberta por um relógio derretido simboliza o próprio pintor e as pestanas fazem lembrar um olho fechado, que simboliza o sono ou a morte, com ligações directas à ausência da consciência. 
No meio de todo o surrealismo, com a desfiguração dos relógios, a figura que nos causa alguma estranheza e as formigas sob o único relógio com forma tal como a conhecemos (que simbolizam um estado de decomposição), surge no fundo uma paisagem. Esta paisagem representa a vista da casa de Salvador Dali em Barcelona e acaba por simbolizar a realidade. 
Falemos dos relógios. Na minha opinião, os relógios representam uma desconstrução do conceito de tempo e do quão este acaba por ser um conceito "relativo". Na verdade, o tempo é provavelmente o conceito que mais alicerça a nossa vida e que mais afecta as nossas emoções. É a noção de tempo que se encontra presente em cada momento da nossa vida. O tempo é apenas um conceito (real), mas que cada pessoa interpreta de forma diferente. Falemos, por exemplo, da sua finitude. Se para alguns a noção da sua finitude é assustadora e, portanto, debilitante; para outros é algo motivador. Isto não se aplica apenas à sua finitude, mas ao peso que as pessoas atribuem ao tempo. O tempo do nosso inconsciente é diferente da nossa noção de tempo quando conscientes. É a essa subjectividade que esse quadro apela, especialmente falando da memória. A memória anda de mãos dadas com o tempo, no entanto, é separada deste. Cada memória situa-se num tempo, mas que cada um interpreta de sua forma (por vezes, longíquo; por vezes, perto; independentemente do tempo em que se situa). 
Do meu ponto de vista, o tempo influencia-nos muito. Influencia as nossas decisões, influencia as nossas angústias, os nossos medos, o nosso bem-estar... Mas no fundo, tempo é apenas tempo, e somos nós que o sentimos de diversas formas, consoante a forma como pensamos. Se a pressão do pessimismo recai sobre nós, as memórias têm mais peso e coisas que ficaram perdidas no tempo passado influenciam o nosso dia a dia cada vez mais. A sua finitude é algo que nos transtorna e que por vezes acaba por nos derrotar. Porém, se escolhemos ver o quão positivo o nosso tempo aqui pode ser e reconhecermos que memórias só nos prendem a um tempo que não se volta a repetir, percebemos que não temos de viver assustados, numa pressa doentia de chegar àquilo que idealizamos. Cada vez mais, vejo o tempo como algo precioso e que deve ser gerido da forma que nos faça mais feliz. Não importa o tempo que nos resta, mas a qualidade do tempo que nos resta.
Digam-me abaixo nos comentários a percepção que têm desta obra e que outras obras gostariam de ver num próximo post desta mesma rubrica. Digam-me também a vossa opinião sobre o que falei e se concordam ou discordam de alguma coisa que referi.


Com amor, 

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